Sunday, August 30, 2009

Acabou

É meia noite e simplesmente não consigo fechar os olhos, por mais cansados que eles estejam.
Aguardo ansiosamente pela manhã, para tentar perdoar a mim mesma o facto de ter desperdiçado tantos momentos, acorrentada a emoções e a sonhos completamente platónicos.
Ouço e vejo, todos os dias, tudo o que me tem afagado a força.
Raro é o dia em que o sono é tranquilo e ainda mais raro é o dia em que sou sincera comigo mesma. No entanto, imagino que amanhã terei outro objectivo e isso fará surgir novas esperanças.
Em vão...
Agora apercebo-mo de que sou escrava de mim mesma e de ti, e que toda a vontade de emergir se desmonora.
Completamente exausta.

Wednesday, December 10, 2008

Casulo

Não vejo.
Não sinto, quanto mais exprimir o que sinto.
Fechei as janelas do casulo e aperto as asas, com medo que ao soltá-las elas se rasguem com o vento.
Tentei agarrar as paredes de terra vermelha nos momentos de fúria, mas perco a força quando começo a ver a luz.
Que raio de borboleta és tu que tem medo de bater as asas e voar para fora do teu casulo?


Lúcia Rocha
*sem asas

Saturday, October 18, 2008

Caprichos da imaginação

Por momentos vejo o mundo numa só perspectiva, aquela que mais gosto, que sei que não me faz chorar, a não ser de felicidade.
Vejo-me diante ti.
O resto importa também, mas neste momento não.
Fico cega cada vez que vivo as mesmas sensações, tão longe de serem minhas, mas tão perto de as agarrar...
Vagueio assim, todas as noites e ainda não estou cansada.

Lúcia Rocha

Wednesday, September 24, 2008

O dom da palavra

Um abraço terno, três palavras meigas que se ouvem de uma voz amiga é o quanto basta para tornar um dia especial.
'Tive saudades tuas', que três palavras! Não importa o remetente nem o destinatário, apenas é necessário perceber o significado brutal que estes códigos da linguagem possuem. Há que saber usar as palavras, usufruir da sua força, da sua beleza, para que a comunicação "entre nós" se torne mais clara, mais fluente, mais sensata.
Isto contraria um pouco o que escrevi no último post, contudo, transmite exactamente o meu ponto de vista do saber utilizar a palavra, pois se não for esse o caso, então mais vale nem nos pronunciarmos.
Se nos concederam o dom de a usar, não podemos dar-nos ao luxo de a banalizar.


as palavras também têm cores*
Lúcia Rocha

Sunday, September 21, 2008

Silêncio

Não me faltam as palavras, mas sim a permissão para as ditar.
Amarradas às minhas cordas, eu própria as impeço de berrarem, para que não firam o mundo que gira à minha volta, para que não alterem a sua natureza.
Confesso que, por vezes, deixo-as fugir, mas num tom tão baixinho, um tom medroso, aflito.
Enfim, para quê escrever?
Prefiro calar as palavras.

Sunday, April 20, 2008

Momento estranho

Ao longe ouvi o que nunca pensaria ouvir na minha rua: uma gaita de foles pequenina, pareceu-me (não entendo tanto assim de música, apenas admiro-a).
Corri para a janela uns minutos depois de continuar a ouvi-la, vi um senhor que a segurava na mão direita e tocava a mesma melodia entre breves intervalos. Na outra mão levava uma bicicleta cor de ferrugem. Parecia um imigrante. Continuou a soar aquela melodia até eu não o ouvir mais. Parecia anunciar alguma coisa. Um presságio, seria??
Fiquei perplexa, por isso agarrei o bloco e disparei.
Se é uma anunciação ou não, não sei, foi um momento estranho.
Parece que ainda ouço o som meiguinho e sombrio que parece trazer "água no bico".


Lúcia Rocha

Composição inacabada

Brincando com as formas, ao som da chuva que embrulha os meus pensamentos, tento procurar o encaixe perfeito.
A harmonia cresce, mas por vezes, parece desvanecer, interrompida por linhas que, num momento de distracção surgem...intrusas!!
Ainda faltam tantos espaços em branco por preencher, desisto, páro.
Pode ser que, mais tarde, feche as formas e lhes atribua o seu destino.



Lúcia Rocha